A rua é a mesma. O calor também. Depois de algumas horas no ônibus
olhando a estrada e viajando, em pensamentos, provavelmente bem mais
rápido do que aquelas rodas aguentariam, cheguei. Lembranças de algumas
coisas e imaginar outras. Não sei se isso é saudável, ou se é mais um
daqueles rituais de sofrimento que costumo cultivar quando tenho algum
tempo livre. E às vezes, em épocas de
grandes mudanças e pequenas incertezas, isso se torna fundamental e
altamente perigoso. Gosto do risco.
Abraçar o mundo. Ficar o dia todo deitada na cama olhando pro teto no
escuro. Almoçar com a família toda na mesa ouvindo as piadinhas sem
graça do meu pai. Escutar carros passando no final da tarde com músicas
de gosto duvidoso e no último volume.Resumindo: Coisas simples que antes eu não dava a mínima e agora fazem
meu coração bater mais calmo e feliz. Como aquela antiga voz e conversa
rápida no telefone. Que louco, né? O mundo dá tanta volta que às vezes é
tão difícil ficar em pé. Mas me apoiando nessas palavras, criei uma
teoria. A teoria dos dois mundos. O das pessoas simples e o resto.
No mundo das pessoas simples as coisas costumam ser um pouco mais
leves. Menos pose, expectativa e maquiagem. Mais praia, tardes sem
grandes acontecimentos com os amigos de longa data e tempo pra
bater-papo com a tia na varanda. Menos pressão, cobranças e promessas.
Mais hoje. Menos atualizações no facebook. O mais importante de tudo:
menos necessidade de julgamento dos outros e da vida. Por que precisamos
entender cada resto de sentimento, em?
Pessoas complicadas geralmente nos prendem. Já as pessoas simples nos
deixam ir pra onde precisamos ir. Elas não precisam de tantas
explicações, sabe? Simplesmente continuam vivendo e continuam lá. Em
algum lugar onde vamos sempre alcançar. Independente do tempo. Da
distância ou do que for. Pessoas complicadas estão ocupadas tentando
parecer ocupadas. E por mais que isso seja irresistivelmente misterioso,
no final das contas, são só pessoas perdidas com suas próprias escolhas
e consequências.
Onde eu entro nessa história toda? Sei não. Acho que tenho um pé nos
dois mundos. E essa sensação que às vezes me corrompe e consome, como
agora, é apenas a consequência da vontade de estar sempre em equílibrio.
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