Engraçado. Você apareceu exatamente quando eu queria desaparecer. Eu
te olhei de longe e achei que poderia ser um ótimo ponto final pra uma
antiga história. Nós nos envolvemos e eu aos poucos fui te conhecendo. Observando suas pintas e segredos. Seria hipocrisia dizer que não nos
comparei com cada segundo do meu passado. Mas era diferente. Você
realmente não se importava com os detalhes. E isso era tão assustador que eu
tinha vontade de ficar debaixo do edredom pra sempre brincando de fugir
da realidade. Mas amanhecia e ela sempre voltava.
Naquela época eu estava quebrada no chão e você juntou aos poucos
cada pedacinho da minha alma. Não criei expectativas. Fui deixando você
me montar, me moldar, me abraçar. As pessoas diziam que era muito cedo pra aquilo, mais eu sou aquela que corro quando todo me pedem pra esperar... Aquilo não fazia o menor sentido, mas eu adorava
quando seu nome aparecia na tela do meu celular no meio da madrugada.
Ficar por perto era como dormir sem escovar os dentes. Eu gostava do
risco, mas algo ainda me fazia voltar instantaneamente no tempo. Um
aperto. Um espaço. Um voz. Um lugar dentro de mim onde você ainda não
conseguia alcançar direito ( e ainda não consegue). Eu rezava para esses fantasmas pararem de me
atormentar. Fechava os olhos e morria de medo de alguma coisa sair pela
minha boca sem querer. Trocar os nomes e as datas...
Os dias foram se passando e cada vez eu me lembrava menos. Ainda me
sentia a pior pessoa do mundo, mas acordar e ter você ao meu lado, enxergar o
sol clareando o quarto pela manhã e ver o seu sorriso se aproximar da
minha boca transformando-se em um beijo doce e demorado camuflava a
culpa.
Lembra daquela vez que tinha certeza já ter te contado uma história
secreta sobre minha infância? Não era você que tinha ouvido da primeira
vez.
Porque diabos a ordem cronológica dos meus sentimentos nunca
corresponde com a realidade? Queria poder dividir meu coração em dois.
Tirar pra fora a parte infectada. Será que existe médico para isso?
Inventaram o nome para essa doença? Tem cura? Eu venderia todos os meus sapatos para pagar. Trocaria todas
as coisas que posso guardar na gaveta da minha penteadeira por meia
dúzia de certezas. Nem precisa tanto vai, por uma só.
Sinceramente não sei se estava pronta. Nossos olhos se cruzaram e por
alguns minutos foi como se meu passado nem tivesse existido. Queria
ser Chronos. Eu
poderia correr pra longe, mas fiquei ali, congelada, enfrentando o
conjunto de moléculas que eu jurava ser o único que conseguiria me fazer
feliz de verdade nessa vida. Quando as protagonistas dos filmes fazem
isso parece tão mais fácil.
Eu achava que a álgebra era difícil. Que a prova final do segundo
ano de matemática tinha sido a coisa mais complicada que consegui
resolver. Mas aí eu cresci e vi que certas questões em nossa existência
exigem mais da gente do que algumas semanas de estudo. Colocar
sentimentos e atitudes na balança não é tão simples, mas dessa vez
o final da história foi diferente. Não voltei pra casa mais uma vez me
sentindo uma idiota solitária que não sabe o que quer. Tudo por mim, por
você, pelo que vem aí pela frente, pela minha escolha de ti amar. Não vou deixar nossas vidas tomarem
rumos opostos. Meu coração é estrábico, mas acho que conseguimos lidar
com isso e com aquelas outras coisas que ainda vou te contar no caminho.
E tudo que mais queria você me deu, um amor tranquilo... em paz.
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