Ontem eu não imaginava que hoje eu sentiria vontade de escrever este
texto. Quero dizer, que eu estaria pronta para compartilhar essa verdade
secreta com o mundo. Você sabe. No fundo, todos nós sabemos. Algumas
coisas, às vezes pequenas, às vezes maiores do que conseguimos imaginar,
precisam de tempo para serem compreendidas. Um perdão. Um trauma. Uma
morte. Um erro cometido no passado. Coisas que incomodam em silêncio e
que com o tempo, todo mundo esquece. Menos nosso próprio coração.
Coisas teoricamente bestas, que perto do que mostram os jornais
sensacionalistas, nos tornam seres superficiais e ingratos. Ainda assim,
estou aqui para bater no peito e dizer que essa dor não é nem um pouco
superficial. É profunda e às vezes, nem com muita terapia conseguimos
descobrir onde realmente dói ou como faz para parar.
É uma questão de tempo. Do clichê e incontrolável tempo. Não tem
jeito, mais cedo ou mais tarde você vai olhar no espelho, ou para a
bagunça do seu novo quarto, e se perguntar, quando é que as coisas
mudaram tanto assim? Qual foi o exato momento em que fulano se tornou um
completo desconhecido? Seria depois daquela atitude? Ou depois daquela
expectativa diariamente cultivada? Quando foi que, você, deixou de
colocar aquilo em primeiro plano? Vai saber. Só acordei pensando que, nós fizemos tantos planos, tantos sonhos para o final do ano e para o novo ano que esta pra chegar e ja chegou, e cade vc ? Cade os nossos planos ? Será esses sonhos eram o certos, seja que a gente estava certo em sonhar daquela forma ? Ou sera que era sonhos errados e impossiveis de se realizar ?
Passei uns bons meses tentando descobrir se eu realmente já tinha
feito isso. Foi olhando através da janela da minha casa, para vista
cheia de prédios e luzes de Natal, que a ficha caiu. Nós não fazemos
isso com uma atitude, fazemos isso continuando nosso caminho e lutando a
favor daquilo que acreditamos.
Um cliclo termina quando paramos de chamar o começo de começo ! Quando
aceitamos o presente e aprendemos a respeitar o final. Ao contrário do
que já li muitas vezes por aí, respeitar não tem nada a ver com
esquecer ou deixar pra lá. É simplesmente aprender a conviver e lidar
com o fato de uma maneira madura. Conversando, ligando, escrevendo,
pedindo desculpas, visitando o túmulo pela primeira vez ou sei lá,
ligando o foda-se e deixando escapar uma lágrima bem na frente da
pessoa.
Às vezes, involuntariamente, nos tornamos o ponto final da história
de alguém. Às vezes a vírgula, às vezes a exclamação e infelizmente, às
vezes, o ponto de interrogação. Também corremos o risco de ser a
reticências, fadados a um final meio que sem continuação. Mas isso não é
tão importante porque independente do que aconteça, aqui, ali ou aí,
teremos sempre a nossa própria história para escrever. Nela, as páginas
não são escritas com canetas, palavras e promessas. Para conseguir virar
nossa página, precisamos de escolhas e atitudes.
A boa notícia é que um novo dia nasce toda manhã. O mesmo sol de
alguns anos atrás. O mesmo frio ou calor. O mesmo horizonte, talvez até a
mesma vista da janela. Mas ainda sim, um arriscado e surpreendente dia.
Espero que saiba ou descubra logo o que fazer com ele.
Ps: Tenho certeza absoluta que já usei cada palavra
deste texto pelo menos mil vezes. A questão é que em uma ordem
diferente, elas podem querer dizer outras coisas. É mais ou menos por
aí....
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